Filho faz crônica de amor a dona Nazaré Cardoso nos seus 78 anos: "O amor que os uniu, nos deix
- Nonato Brito
- 11 de set. de 2016
- 2 min de leitura

Dona Nazaré com o seu marido Napoleão Cardoso
O professor Elizeu Cardoso, membro da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências, escreveu uma bela crônica de amor, endereçada a sua mãe Nazaré Cardoso, que completou 78 anos. Atualmente residindo em Pinheiro, dona Nazaré Cardoso casou-se com Napoleão Cardoso no dia 22 de outubro de 1956 em Guimarães, um dia após o término dos festejos do padroeiro da cidade. Por mais de duas décadas o casal residiu e trabalhou em Guimarães. Napoleão Cardoso prestava serviços à Paróquia de Guimarães, morando, inicialmente em Cumã e, posteriormente, na Rua Monsenhor Estrela, na sede. Os primeiros, dos 15 filhos do casal, são vimarenses. A seguir, a crônica:

O Professor Elizeu Cardoso autografa um de seus livros
PARA MAMÃE NAZARÉ, PELOS SEUS 78 ANOS DE VIDA
De mamãe guardo desde as primeiras lembranças a dignidade e força diante da vida. A pobreza como em grande parte das casas do interior do Brasil, nos atingia com seus olhos profundos e suas mãos carentes. Ainda mais porque éramos uma família numerosa, 15 filhos, e muitos outros que em nossa casa moravam enquanto terminavam seus estudos.
Quando tudo parecia difícil, pela falta de roupas, calçados, dinheiro e mesmo alimentação, ela confortava: "Vocês não têm fé? Deus proverá!". E inúmeras foram as vezes em que os milagres do pão e dos vizinhos se repetiram diante da gente.
A nossa casa sempre foi muito visitada, pois chegavam compadres, comadres, e conhecidos de todos os lugares da Baixada. Em volta da mesa experimentamos a primeira experiência de humanismo. Para cada visita que chegava, ela tirava um pouco da nossa comida e fazia mais um prato.
Se as visitas fossem um casal, ela e papai emprestavam sua cama. E iam para as redes, com a alegria de servir. O amor que os uniu, nos deixou uma lição para a eternidade: não há diferença que resista ao diálogo. Mesmo com personalidade diferentes, jamais vimos brigas ou discussões, porque eles eram as diferentes formas do mesmo amor que sentiam um pelo outro. A fé e o humor, eram permanentes nas rezas em família, nas noites de histórias, nos teatros improvisados, nas cantorias e fatos que escrevíamos sem saber.
Mamãe não guarda nada para si, tudo que recebe doa. Nenhum perfume, nenhuma roupa, nenhum calçado, lhe sobra. Descobriu que a felicidade só pode ser encontrada no outro. Diz que puxou para a sua mãe, nossa avó Mariana, que jamais fazia beiju, bolo, juçara ou canjica só para a sua casa. Os vizinhos recebiam cada um a sua porção, na grandeza da comunhão fraterna.
Basta fechar os olhos, se sentir mais uma vez criança, que mamãe está lá em sua máquina de costura assoviando canções de padre Zezinho, abençoando cada um que sai para a escola.
Tem um sorriso duradouro, desses que caminham no tempo e persistem em todas as coisas.
Hoje, mamãe Nazaré, comemoramos a sua vida, que gerou tantas vidas e se reencontrou em tantas outras. Parabéns! Te amamos com a mesma intensidade e alegria com que nos deu a vida. Essa alegria rara que as freiras, saindo de lhe visitar, percebiam e comentavam entre si, quando nem mesmo a senhora desconfiava: - Nazaré, está grávida! Não percebeu a alegria em seu semblante?
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