- Nonato Brito
Juca Araújo: "Mateusinho acendia os lampiões nas procissões de São José"
O vimarense Juca Araújo escreve crônica sobre as procissões de São José de sua meninice, destacando o trabalho do acendedor de lampiões Mateus Cardoso, conhecido popularmente como Mateusinho. Sem energia elétrica naquele período, nem movida a usina termelétrica, nem da Cemar, o funcionário da Prefeitura Mateusinho, nas décadas de 1930 e 1940 era o encarregado de acender os lampiões, no início da noite, colocados em postes de madeira de algumas ruas da cidade. Mateusinho, pessoa muito estimada na cidade, além dos seus trabalhos profissionais, durante o Carnaval coordenava a apresentação da brincadeira chamada "Lodé", de origem africana, organizada com esmero e apresentada no Terreiro de Memê, no Casino e em outros locais da cidade. A seguir, a crônica de Juca Araújo:
Juca Araújo
StartFragment
LEMBRANÇAS DO ACENDEDOR DE LAMPIÕES NA MINHA PRIMEIRA FESTA DE SÃO JOSÉ, EM GUIMARÃES
(Juca Araújo)
Eu ainda era um menino, quando fui pela primeira vez com meu pai à festa de São José, Padroeiro de Guimarães. Era um fim de tarde e os lampiões já estavam acesos nas ruas da cidade. Fiquei extasiado e curioso, perguntei ao meu pai: – “Quem acende esses lampiões?” – “É o Mateus Cardoso, também conhecido por Mateusinho”. Disse meu pai.
Eu então resolvi sair a sua procura, desejava conhecê-lo. Achei um ofício sabido e interessante. Escapuli da vigilância do meu pai e deixei-me ir ao meio dos transeuntes que cruzavam as ruas de Guimarães, naquele começo de noite de festa.
Os lampiões continuavam acesos, e eu, cruzava as ruas olhando e admirando cada um, queria saber tudo: como funcionava, qual era o combustível que produzia aquela luz bonita, limpa, pois só conhecia a luz enfumaçada e triste das lamparinas que eu ajudava minha mãe acender em nossa casa em Cumã.
Nesse instante fui encontrar a procissão marítima que havia desembarcado na rampa e vinha subindo a Rua do Porto. Juntei-me aos devotos e ao chegar em frente da igreja, perguntei: – “Cadê o acendedor de lampiões?” Uma senhora mostrou-me um senhor que estava tentando acender um, que havia apagado.
Aproximei daquele senhor e curioso, dirigi-lhe a palavra: – “Moço, o senhor gosta de acender lampiões?” Perguntei. – “Sim, mas ao apagá-los, os meus sonhos também se apagam, caem na escuridão junto com eles.” Eu ouvia tudo em silêncio, enquanto o Sr. Mateus falava dos seus lampiões como a declamar para mim.
E eu adentrei em seu delírio e, com certa tristeza, pensei: – “Será que um dia o meu querido Cumã, também terá lampiões?” Lamentava não entendendo porque os meus sonhos contagiavam a minha alma. Mas procurei apagar esses sonhos e me juntei a outros garotos numa frenética algazarra na praça da igreja.EndFragment