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Nonato Brito

Em sua obra prima, o poeta Ferreira Gullar inclui verso sobre os camarões de Guimarães


Ferreira Gullar

O poeta Ferreira Gullar, considerado o maior poeta brasileiro da atualidade, falecido ontem (5), incluiu verso sobre os "camarões de Guimarães" em seu mais famoso poema - o Poema Sujo -, considerado obra prima do poeta maranhense. Inspirada em memórias da infância do poeta, vivida em São Luís, o nome do poema é "Sujo" porque expressa um desabafo e expõe as vísceras em forma de poesia, afirma o crítico de cinema Ubiratan Brasil. Escrito quando o poeta encontrava-se exilado em Buenos Aires, na Argentina, em 1975, na época da Ditadura Militar brasileira, o poema tem 100 páginas e é considerado pelo poeta Vinícius de Moraes "a mais importante obra poética brasileira já publicada". Ao destacar seu pai, Newton Ferreira, que era pequeno quitandeiro em São Luís, o poeta lembra, "de homens que punham camarões para secar ao sol em Guimarães":


"Parado e ao mesmo tempo inserido

num amplo sistema

que envolvia os armazéns

da Praia Grande, a Estrada de Ferro São Luís-Teresina

fazendas em Coroatá, Codó, plantações de arroz

e fumo, homens que punham camarões para secar

ao sol em Guimarães. E as próprias famílias

da rua

que se sentariam mais tarde à mesa do jantar.

(...)


Um dos trechos mais conhecidos do poema exalta a São Luís da adolescência do poeta:


"Sobre os jardins da cidade

urino pus. Me extravio

na Rua da Estrela, escorrego

no Beco do Precipício.

Me lavo no Ribeirão.

Mijo na Fonte do Bispo.

Na Rua do Sol me cego,

na rua da Paz me revolto

na Rua do Comércio me nego

mas na das Hortas floresço;

na dos Prazeres soluço

na da Palma me conheço

na do Alecrim me perfumo

na da Saúde adoeço

na do Desterro me encontro

na da Alegria me perco

na Rua do Carmo berro

na Rua Direita erro

e na da Aurora adormeço


Poeta, crítico de arte, tradutor, pintor, dramaturgo e ensaísta, Ferreira Gullar, teve vários de seus poemas musicados por grandes nomes da Música Popular Brasileira. Fagner musicou, em 1981, o seu poema "Traduzir-se", e 10 anos depois gravou "Borbulhas de Amor", letra do compositor dominicano José Luís Guerra, traduzida por Ferreira Gullar para o português. As letras de Ferreira Gullar no campo da MPB são cantadas, ainda, por Milton Nascimento, Caetano Veloso, Maria Betânia, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Ney Matogrosso, Suely Costa e Adriana Calcanhoto. Atualmente a trilha sonora da novela "A Lei do Amor", da Rede Globo, leva versos de Ferreira Gullar colocados na música Trenzinho do Caipira, de Heitor-Villa Lobos (Fonte: www.g1.globo.com)

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