- Nonato Brito
Homenagem ao dia da Mulher Vimarense Maria Firmina dos Reis
Maria Firmina dos Reis, uma voz além do tempo
Por Osvaldo Gomes
Graduado em História pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Desde o ano de 1975, o dia 11 de outubro em Guimarães é feriado municipal em comemoração ao dia da Mulher Vimaranense, uma homenagem a Maria Firmina dos Reis, nossa Primeira Mestra Régia que adotou esta terra como sua, e das nossas praias, da vida nos engenhos, inspirou – se para escrever as suas poesias, os seu romances. Quem foi essa mulher? Qual a importância da sua vida para esta cidade que em janeiro de 2018 estará completando 260 anos?
Quanta doce poesia, que me inspira O mago encanto destas praias nuas Esta brisa, que afaga os meus cabelos, Semelha o acento dessas fases tuas.
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão, em 11 de outubro de 1825. Filha de João Pedro Esteves, era escravo, de Leonor Felipe dos Reis, conforme descobertas recentes era uma escrava fora. Ainda criança, mudou-se para a Vila de São José de Guimarães, para viver na casa da sua tia materna, que tinha uma boa situação financeira. Parte da sua formação foi incentivada pelo escritor e gramatico Sotero dos Reis, seu primo por parte de mãe. Aos 22 anos, foi aprovada em um concurso público (1947) para lecionar como professora de primeira letras na cidade de Guimarães, tornando-se a primeira Regia Mestra do município de Guimarães, aposentando-se em 1881.Um ano antes revolucionou a educação ao fundar nas proximidades da Fazenda Entre Rios (Maçaricó) a primeira escola mista do Maranhão, ao juntar meninas e meninos na mesma sala, com ensino gratuito ao filhos dos mais pobres, fato que gerou grande escândalo, obrigando-a a fechar a escolar dois anos e meio após a sua fundação. Sua vida é repleta de fatos que demonstram ser possuidora de cultura, consciência política e social fora dos padrões da época em que viveu. Foi à frente do seu tempo, ao romper os padrões femininos. Autodidata aprendeu sozinha a falar a língua francesa, `dedicar-se a literatura, compor hinos, escrever romances, contos, enquanto as mulheres eram preparadas para o casamento, aprender a cozinhar, costurar e arrumar um marido. Em 1859, publicou o romance Úrsula, que inaugura em nossas letras, a trajetória do romance de introspecção, que evoca os sentimentos e sensações das personagens, para além de um tempo cronológico, como é característico dos romances dessa natureza. Narra a condição da população negra no Brasil. Um dos primeiros romances abolicionistas da literatura brasileira, escrito do ponto de vista de uma mulher afrodescendente. Em suas obras por ser mulher, usa o pseudônimo, Uma Maranhense. [...] mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume. Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo (REIS, 2004 p 13 apud MOLINA) Maria Firmina não tinha posses. Além de professora, colaborava com os jornais literários, publicando poesias, ficção, crônicas, além de ser compositora de diversos hinos e valsas, além de ser folclorista. Fez da literatura um instrumento de denúncia da escravidão, mostrando o quanto sua existência era contraditória com a fé cristã professada pela sociedade. Maria Firmina faleceu pobre e cega, no dia 11 de novembro de 1917, aos 92 anos. Ficando no esquecimento até ser encontrada por acaso as por Nascimento Moraes Filho, ao procurar em jornais do século XIX, textos escritos por escritores maranhense.
Canta, poeta, teu cantar singelo Meigo, sereno como um riso d’anjos; Canta a natureza, a primavera, as flores, Canta a mulher a semelhar arcanjos, Que Deus envia à desolada terra, Balsamo santo, que em seu seio encerra.
Abaixo, a sua bibliografia: Úrsula. (Romance). San’Luis: Typographia do Progresso, 1859; 2ª ed., Impressão fac-similar. [prólogo de Horácio de Almeida]. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora LTDA, 1975, 198p. Gupeva. (Romance). 1861/1862.publicado em O jardim dos maranhenses e, em 1863, no jornal Porto Livre e no jornal Eco da Juventude, e transcrito em José Nascimento Morais Poemas. em “antologia poética” Parnaso Maranhense, 1861. Cantos à beira-mar (poesia).. San’Luis: Typografia do País, 1871; 2ª edição por José Nascimento Morais Filho, Rio de Janeiro, Granada, 1976. A escrava. (conto). : 1887: Revista Maranhense, nº 3. Republicada em José Nascimento Hino da libertação dos escravos, 1888. Publicou poemas nos jornais literários: I. A Imprensa; II. Publicador Maranhense; III. A Verdadeira Marmota; IV. Almanaque de Lembranças Brasileiras; V. Eco da Juventude; VI. Semanário Maranhense; VII. O Jardim dos Maranhenses; VIII. Porto Livre; IX. O Domingo; X. O País; XI. A Revista Maranhense; XII. Diário do Maranhão; XIII. Pacotilha; XIV. Federalista. Composições musicais: – Auto de bumba-meu-boi (letra e música); – Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); – Hino à mocidade (letra e música); – Hino à liberdade dos escravos (letra e música); – Rosinha, valsa (letra e música); – Pastor estrela do oriente (letra e música); – Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música).