MEMÓRIA DE DEZENOVE ANOS
- Blog Vimarense

- 17 de ago.
- 3 min de leitura

Por Iasmim Cunha
Na manhã de nove de agosto de 2006, a notícia chegou: “Ele nasceu!”.Essa frase provocou um grande silêncio. Permaneci por um longo período ali, em pé, parecia que eu não tinha assimilado o que acabara de acontecer: “Ele nasceu”.
O conteúdo da aula voltou a ser explanado como horas antes, diante daquelas 25 crianças. Continuei o assunto. Lembro-me bem: era uma aula de matemática para a turma do terceiro ano do ensino fundamental. Permaneci assim por mais ou menos duas horas e meia, até que o sinal bateu.
O sinal, por sua vez, parece que despertou, enfim, a emoção que estava contida. Começou a sair primeiro em forma de lágrimas, que banharam os olhos, seguidas de mãos trêmulas que não conseguiam arrumar os livros.
Segui, então, para o hospital, tomada por uma emoção que não conseguia conter dentro de mim.
O primeiro contato com Ele, nos meus braços, foi como se fôssemos uma só pele. A conexão, a sintonia... realmente era como se fôssemos um só.Tão pequeno, indefeso, pele tão clara — mas que, com o choro, ficava avermelhada. Seus cabelos lisos, arrepiados... e aquela marca na nuca deixava claro que sim, era nosso bebê.
Seu choro agudo foi acalentado pelos braços que, a partir dali, estariam sempre abertos para acolher todos os dias e todas as noites — e que nunca soltariam suas mãos.
Vieram as noites em claro, quando trocava a noite pelo dia; as trocas de fraldas; o medo de dormir e não o ver acordar; ou mesmo só o observar, verificando se estava respirando enquanto dormia.
O medo era constante: as febres altas que teimavam em não baixar... Meu Deus! O medo tomava conta. Sim, adultos também sentem medo: medo do novo, medo diante de um ser tão novo.O que fazer? Como fazer?Na verdade, eles não vêm com manual de instruções. Vamos errar, vamos exagerar, vamos falhar. Mas, no dia seguinte, começa tudo de novo. E de novo. E de novo...
Mas havia uma certeza em toda essa história — nossa história: Ele era o meu presente enviado por Deus. O meu presente de Deus!Não, não é clichê. Acredite: foi assim que eu senti desde o primeiro dia em que soube que Ele estaria vindo para nossas vidas. Era, de fato, o meu presente enviado por Deus.
Quantas vezes repeti isso para que Ele entendesse que Deus o havia enviado para minha vida, para nossas vidas.
O primeiro sorriso — ah, que sorriso lindo! — seguido da gargalhada que arrancou lágrimas contínuas de tanta emoção. Os primeiros passos em direção aos meus braços. As brincadeiras de esconde-esconde, que sempre terminavam com a frase: “Achou!”.
“Segura minha mão”... ah, como essa frase foi importante! Naquele momento de tensão, depois da travessura que não deu certo e resultou em uma injeção, aquele aperto de mão forte me pedia proteção. Havia também o olhar de reprovação, mas, ao ouvir o “segura minha mão”, compreendi que o medo e a dor pediam por aconchego.
É preciso cuidar, é preciso amar, mas também é preciso frear. E, no meio do caminho, parece que vamos nos perdendo. O medo de errar nos faz duvidar de como educar — educar para o mundo, educar para a vida. E tudo isso vem acompanhado do sim ou do não. Saber dosar na medida certa é o grande segredo.
O não faz parte de tudo. Como é difícil lidar com o não: Não pode. Não deve. Não vai...O não é mais necessário do que se imagina, para frear o caminho livre e torná-lo seguro.
E, para encontrarmos esse caminho, seguimos errando e acertando, sem manual de instruções ou receita pronta.
Ao longo do caminho, vamos colecionando memórias: lembranças que vêm à tona entre uma conversa e outra. O sorriso ao saber que, em sua memória, ficou marcado o primeiro filme que assistimos juntos. Após anos, a lembrança ainda estava ali. Despertou, sim, uma emoção genuína — e foi preciso segurar o choro.
Cultivar memórias. Relembrar os momentos vividos nesses dezenove anos de sua vida — de nossas vidas. Um momento de alegria e gratidão. Olhar para Ele hoje e saber que o medo de não conseguir cuidar deu lugar à admiração e ao orgulho pela pessoa maravilhosa que se tornou.
E sim, poder dizer que sou grata por quão maravilhoso é ter Ele em minha vida, para me ensinar como é grandioso amar alguém sem querer nada em troca. E sentir, a cada novo amanhecer, que sou capaz de gostar ainda mais do que gostava ontem.
Feliz Dezenove!










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