O DIA EM QUE O MAR CALOU A VOZ DO POETA
- Blog Vimarense

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Há datas que parecem nascer escritas para a eternidade. O 3 de novembro de 1864 é uma delas. Naquela madrugada triste, as águas revoltas do litoral maranhense guardaram para sempre uma das vozes mais sensíveis da poesia brasileira — Antônio Gonçalves Dias, o poeta de “Canção do Exílio”, símbolo maior do romantismo nacional.
O navio Ville de Boulogne, que trazia o poeta de volta da Europa, seguia em direção a São Luís quando encalhou nos baixios dos Atins, em frente à praia de Araoca, município de Guimarães, no Maranhão. O mar estava furioso, e em poucos instantes o casco da embarcação começou a se despedaçar.
Enquanto parte da tripulação conseguia escapar em pequenas embarcações, o poeta — já bastante enfraquecido por uma doença nervosa e respiratória — não teve a mesma sorte. Há versões que afirmam que Gonçalves Dias já estava morto no momento do naufrágio; outras, que ele recusou o resgate, talvez tomado por um pressentimento trágico ou pela emoção de, enfim, morrer diante da terra que tanto amara.
O certo é que seu corpo não foi encontrado, sendo o mar o seu sepulcro. Mais tarde, onde repousam sob honras e lembranças.
A ironia do destino é cruel e poética: o homem que escreveu “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá” morreu quase ao alcance dessas palmeiras, diante das praias maranhenses que tanto inspiraram sua alma.
Hoje, mais de um século e meio depois, o Baixio dos Atins e a Praia de Araoca permanecem como testemunhas silenciosas daquele naufrágio. Ali, onde o mar e a poesia se encontraram pela última vez, ecoa a memória de um homem que fez da palavra seu barco e do amor à pátria, seu porto.










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