O VELHO JACUMÃ
- Blog Vimarense

- 3 de ago.
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Por Tony Avelar
Rodeado pela quinta de seu Zico e algumas casas ao redor, eu me lembro bem do velho Poço Grande, conhecido por todos nós como Jacumã.
A cidade de Guimarães ainda se desenvolvia, e poucas famílias tinham acesso à água encanada. O poço era, então, a salvação — matava a sede de quem se servia dele com fé e esperança.
Água cristalina, doce como nenhuma outra. Nem município vizinho tinha um sabor como aquele. Faltou pouco, muito pouco, para se tornar água mineral reconhecida — mas para nós, já era ouro líquido.
Lembro quantas vezes vi grupos de pessoas caminhando com baldes e bacias cheias de roupas, indo lavar no poço. Muitos desciam por um caminho estreito logo abaixo da Rua Santa Rita; outros, mais cuidadosos ou menos acostumados, preferiam a descida pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Eu e meus irmãos também fazíamos esse trajeto. Íamos buscar água para encher as vasilhas, pois a bomba da CAEMA vivia queimando — e às vezes passavam semanas até que consertassem.
Quando nos aproximávamos do poço, era lei assoviar ou gritar:
— Tem gente aí?
Era pra evitar surpresas, claro. Sempre havia alguém tomando banho pelado — e era cada susto e risada que só quem viveu entende.
Meu velho Jacumã... Foi ele que socorreu tanta gente, sustentou famílias inteiras. A água era levada em tonéis sobre carroças, vendida de porta em porta. Uma rotina dura, mas digna — típica da luta do povo nordestino.
Muitos se perguntavam: de onde vinha tanta água que não acabava? Era mesmo de espantar! As cordas amarradas em latas desciam e subiam sem parar. As vasilhas mergulhavam fundo e voltavam sempre cheias. Era como se o poço tivesse coração — e ele batia por nós.
Crianças, adultos, idosos — todos num só espaço, unidos pela sede, pelo calor e pelo desejo de encontrar um amigo para prosear. Tomar banho de balde era um prazer. Mas se fosse da água do Jacumã, então... era bênção.
Quem não se alegrou ao beber daquela fonte? Quem não levou conversa pra pôr em dia? Quem nunca se ensaboou com sabão de barra e depois despejou baldes e baldes d’água sobre o corpo com aquele grito bom de refresco?
Era alegria pura! Sua água era a paz. Era como se ele abraçasse a gente.
Gritos, gargalhadas... tudo virava brincadeira. Até quando o balde escapava com a corda rebentada, logo alguém ajudava. A solidariedade era natural, como a água do poço.
Hoje, quando passo por lá, vejo o abandono. E me vem à memória os que se foram, como a saudosa Dona Chicota e sua vizinha Dona Maroca, que sustentaram famílias inteiras como lavadeiras fiéis ao Jacumã.
São poucos os que ainda visitam e agradecem. Mas eu sento ali, nos bancos de concreto, olho para dentro do poço e lembro — com saudade — do quanto ele nos deu: água, afeto e história.










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