Pauliver retrata a nossa Guimarães em poesia
- Blog Vimarense
- 13 de jul. de 2023
- 3 min de leitura

PRAÇA LUÍS DOMINGUES
(Antiga Praça da Independência)
Pauliver – Paulo Oliveira
Transcrita do livro Poemarães
Eis a praça coração-do-povo!
A cédula-mater da cidade
onde transitam seus habitantes
sobre as pegadas de sua história,
cujos atos inda são memórias
de um tempo plantado nesta praça,
ponto de encontro de mil destinos,
núcleo fatal da recordações.
Seu nome, talvez Luís Domingues,
na concorrência de outros tantos,
alguns, seculares, sóis perenes,
com os que acenderam lampiões,
até bombearam petromax,
após as luzes a carbureto,
aclarando bailes e saraus
que acabavam sempre nessa praça
do “até ver” no dia seguinte.
Ela tem suas confrontações.
histórica com aquelas outras
praças (quais?)- Euzébio Cavaignac,
a José Ewerton, a João Fonseca,
estas, vizinhas com outras tantas:
adjacentes à Praça Anita Gomes,
lateral com a Alberto Ribeiro,
a qual, contígua à Paulo Nogueira,
fronteiriça à Duvarlina Nunes.
Por estas praças todos desfilam
suas recordações, até vendo
burricos transportando água
lá na Barriquinha e Poço Grande,
através de duas ancoretas
presas ao lombo dos animais,
para abastecer toda uma Vila
que desconhecia a encanação
e a forma intranquila de viver.
Tempo de progresso em câmera-lenta,
quando cantavam carros-de-boi
pelas ruas em cenas românticas
e senhoris, cruzando soberbos
a Dias Vieira e a Emílio Habib,
contornando a Maria Firmina
e descendo a Sotero dos Reis
até passar pela Urbano Santos,
como num cortejo triunfal.
Não deixaram de por estas praças
beber o frescor tão madrigal,
saudando os carros a cada casa
com seu dono à porta madrugando,
tal como a de um Manoel Pimenta,
e de um Manduca Santos, ou ainda,
de Eugênio Machado, Augusto Brito,
enfim, descendo a Rua do Porto,
para embarcar sua carga eterna.
Da praça do povo à rua dos nomes,
em dias festivos e folclóricos,
como já dançaram multidões
de alegres roupas, rostos felizes,
jovens e velhos e acriançada,
nos lodés, congos e zabumbares,
nos tambores, passos e cantares,
tudo, ao derredor de uma Pirâmide,
lustrada a vida de um apogeu.
Esta praça existe para o povo,
resistindo ao tempo e ao pessimismo
de quem não junta à procissão
do seu padroeiro, São José,
de auem não avista a poesia
das verdes frondes dos coqueirais
lá da praia de Cumã, ou mesmo,
da de Guajerutíua, Araoca,
Jenipaúba e outras tantas belas.
Nesta praça se respira a vida
dos suaves climas tropicais,
ao amadurar os silvestres frutos,
quais os muricis lá do Peri,
ou mesmo os cajus lá da Salina
ou os guajerus lá do Recreio,
que, ao lado dos cocos cumaenses
e dos araticuns da beira-mar,
trazem sensação de bem-estar.
Por ela transitam pescadores
a vender pescados e mariscos,
cambadas de peixe e caranguejo
com siri e camarão disputam,
na hora de seu câmbio necessário
à mantença dos valentes filhos
desta terra decantada ao mundo,
a partir da pesca de currais,
linhas, espinhéis e manzoais.
Deste núcleo parte e juventude
sorridentes, em dia de folgança,
ao abraço da Praia de Cumã,
ou senão mesmo à de Araoca
onde do Éden se colhe o gosto,
a exemplo do achado em doces rios
como o Paquetá e o Itororoma,
à sombra de altos buritizais
e da vicejantes juçarais.
É digno passar por esta praça
onde se saúdam os antagônicos,
rivais, políticos e inimigos,
com o abraço reconciliado
da paixão por esta terra amada,
soerguida à margem litorânea
da extensa Baía de Cumã,
em meio à rica salubridade
de um chão pleno de hospitalidade.
Nesta praça se monta o cenário
e o próprio palco das emoções
para as preclaras exibições
que a vida nos oferece rindo,
desde os reencontros matinais
às despedidas vespertinas
dos que procuram autenticar-se
nas páginas desta terra-berço,
impoluta desde seu começo.
Do nascente emana a estrela-sol
a banhar de luzes esta praça
torrando o palanque demagógico
do político que só engoda o povo,
queimando o atraso bissecular
da terra em luta com o progresso,
assando a calúnia rotineira
do anticristo que compate a Igreja,
fritando mais que rude inflação
de quem não consegue um justo pão,
cozendo a sede asfixiante
de quem naufraga no desemprego.
Sim, o astro-rei envolve a cidade
de luzes místicas pelos ares,
fazendo arder no peito focos
de amor em todo vimarense,
enquanto ao longo velejam barcos
nesta praça transeuntes passam
a pedir ao céu que a vida seja
tudo além do bom que se deseja:
Chuva de prazeres
(o prazer do bem comum),
vendaval de flores
(flores da amizade)
conflitos de abraços
(brigas passageiras)
enchentes de sonhos
(pesadelos doces)
caminhar soberbo
(de todas as manhãs)
Desde solo honrado
Dito: Guimarães.
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