PROSA E VERSO
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Corações que lutam juntos
Por José Benedito Martins
Há heranças que se transmitem em sorrisos, no jeito de olhar ou no brilho dos olhos. Outras, porém, chegam como provas — como caminhos árduos que a vida insiste em repetir dentro da mesma família. O sangue que corre em minhas veias é o mesmo que corre nas veias da minha filha. O mesmo tipo sanguíneo, o mesmo coração marcado por uma condição hereditária. Somos duas vidas ligadas não apenas pelo amor, mas também pela luta.
Já havia perdido dois irmãos para essa mesma doença (aneurisma na raiz da aorta). A dor da despedida fez morada em mim, e aprendi cedo que a vida pode ser frágil como o sopro do vento. Quando chegou a minha vez de enfrentar essa mesma cirurgia de alto risco, pensei que talvez fosse o meu capítulo final. Mas sobrevivi. Sobrevivi pela graça de Deus — e isso me fez acreditar que ainda havia propósitos para a minha vida.
Nada, porém, me preparou para a notícia de que minha filha teria de passar pelo mesmo caminho. Meu mundo desabou, o medo tomou conta, e a dor se multiplicou. Revivi lembranças de luto, de hospital, de riscos... Vi minha menina, tão jovem, diante de uma batalha gigantesca. E, ainda assim, ela foi uma guerreira — corajosa, firme, com uma força que me ensinou mais do que anos de vida poderiam ensinar.
Meu coração, já marcado, se partiu em mil pedaços. Mas Deus é maior do que qualquer diagnóstico. A fé que me sustentou também a sustentou. Minha filha entrou na sala de cirurgia carregando o peso da minha oração e a esperança de toda uma vida. E ela venceu. Venceu como um milagre vivo, como uma flor que insiste em nascer mesmo no solo mais árido.
Mas essa história não é feita apenas de lágrimas e fé. É feita também de presença. E aqui preciso agradecer à minha esposa, Lúcia — minha companheira incansável. Foi ela quem esteve ao nosso lado em todos os momentos difíceis. Lutou junto conosco, sofreu em silêncio, carregou nossas dores como se fossem dela. Guerreira também, sustentou-nos com seu apoio e seu amor.
Hoje somos dois cardiopatas e também dois sobreviventes. Duas histórias que se entrelaçam e testemunham que, mesmo diante das dores que a herança nos trouxe, herdamos também a força de lutar. E é essa força que faz da minha filha não apenas minha herdeira de sangue, mas a maior bênção da minha vida. Somos dois corações marcados pela luta, mas também duas histórias que testemunham o quanto a fé, o amor e a união podem transformar dor em vitória.
Hoje, quando a olho, vejo mais do que uma filha — vejo tudo para mim. Vejo a prova do amor de Deus, a confirmação de que os corações podem até carregar cicatrizes, mas também um novo recomeçar
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