ENTREVISTA: Aniceto da cobra boiuna: "Eu ainda não tinha visto sucuriju tão grande"
- Nonato Brito
- 26 de mai. de 2016
- 4 min de leitura

O lavrador Aniceto Piedade, de 70 anos, é entrevistado no Povoado Jutaizal por Nonato Brito, do Blog Vimarense
O lavrador Aniceto Piedade, de 70 anos, morador do povoado Jutaizal, a 25 quilômetros da sede, já vinha desconfiando que tinha algum bicho grande comendo seus animais, até que conseguiu, com a ajuda de oito colegas lavradores, matar a cobra sucuriju, de sete metros, que já tinha comido quatro porcos de sua criação e agarrara o seu boi de oitenta quilos, deixando só os ossos dele. A cobra sucuriju ou sucuri é a mesma cobra boiuna, conforme esclarece o Dicionário Houaiss. O editor do Blog Vimarense, Nonato Brito, deslocou-se da sede até o povoado de Jutaizal para fazer a entrevista. Aniceto Piedade, nascido no ano de 1946, filho de Inês Piedade, tem uma filha, Sílvia Piedade, que mora no Rio de Janeiro. A seguir a entrevista:
Blog Vimarense - Como realmente aconteceu isso, Seu Aniceto?
Aniceto Piedade - Eu vinha desconfiando que tinha um bicho comendo os meus animais. Já tinha perdido quatro porcos e o último pesava mais ou menos 30 quilos, mas eu nunca imaginei que era uma cobra tão grande como essa.

A cobra sucuri ou sucuriju ou boiuna
O senhor cria seus animais perto de sua casa?
Na quinta-feira, antes do acontecido, os bois fugiram para o campo que é aqui por trás. Fui até lá para pegar os animais, mas não consegui. Estavam muito ariscos. Fui pra Guimarães onde minha velha mãe está com mais de 80 anos e um pouco adoentada. No domingo fui apanhar os bois aonde tem uma vaca com cria e trouxe eles para onde ficam, que é a nossa tapera, como se chama aqui no interior. Lá que se morava antes, mas ainda tenho as minhas criações por lá, que estou trazendo pouco a pouco para a minha nova casa. Na segunda-feira coloquei um milho para eles e fui apanhar uma maniva para inteirar a comida deles. Quando eu cheguei já só encontrei os dois barrigudos e a vaca. O boi menor não estava junto e que não era nosso. O dono vinha dar uma olhada nele às 4 da tarde e eu já preocupado fui na capoeira que fica logo atravessando aquele riacho que lhe mostrei. Procurei e nada. Na minha volta ouvi o berro do boizinho. Aí falei comigo mesmo: "Olha aonde está esse danado!"

O que restou do boi de 80 quilos
Era a cobra que tinha agarrado o boi?
Deixa que quando eu saí pra procurar o boi, a vaca foi me seguindo e a gente se encontrou perto de onde estava a cobra com o barrigudo. A vaca ficou paradinha, olhando. A coisa é feia!
Não era jacaré?
Nonato, tinha certeza que não era jacaré, que tem muitos por aqui, e grandes. O jacaré quando ataca o porco ou outro animal ele vai comer no seco e deixa resto. A gente descobre através do urubu comendo o que restou.

A sucuri, em duas partes, agora é comida pelos urubus à beira do riacho de Jutaizal
Era um boi novo?
Era. Tinha 4 meses de idade e pesava mais ou menos 80 quilos.
De quem era o boi?
O boi era de Sansão que comprou de Antônio Vaqueiro e deixou para tomar contar.
A cobra pegou o boi na roça, no campo ou perto de casa?
A cobra foi encontrada a uns 300 metros de casa, antiga moradia que hoje é tapera, perto de um riacho.
O senhor tem crianças em casa?
Não. A minha mãe mora na sede de Guimarães e a minha filha mora no Rio de Janeiro. Eu já tenho neto.
Que tipo de cobra era?
Era uma sucuriju. É a sucuri que eles chamam para a Amazônia.
O senhor se atracou com a cobra para puxar o boi?
Não. Eu só puxei a perna do boi e a cobra se desenrolou rapidamente e desceu para aquele riosinho que lhe mostrei. Eu ainda consegui meter o facão nela, mas não atingiu quase nada. Como eu já sabia onde ela estava fizemos uma ponta no pau e metemos na direção que ela tinha entrado.
E deu pra acertar a cobra?
Foi certinho nela e quando ela saiu, o Biné, filho de Zé Peteca, cortou ela. Esse corte matou a fera.
Reuniu quantos homens para matar a cobra?
Eram oito homens envolvidos. Até o encarregado da terra estava lá. Foi ele quem tirou as fotos.

A boiuna pegou o boi a 300 metros da casa de Aniceto Piedade
O senhor não teve medo dela lhe atacar?
(Risos) As duas coisas misturadas. Medo e coragem porque também já tinha me dado prejuízo. Nonato, nós não matamos a cobra por perversidade e sim por necessidade. Quando andamos nesta estradinha que o senhor andou há pouco, à noite a gente encontra muito jacaré e não matamos porque não tem necessidade.
Deu pra aproveitar a carne do boi?
Não. Mesmo porque era muito novo. Como o senhor viu lá, os ossos do boi estão todos quebrados. Ela tem muita força. Na ocasião, o responsável pela terra que também foi com a gente depois que dei o alarme e vim convidar alguns companheiros para ajudar a matar a fera. Só tirou foto da cobra e não tirou do barrigudo morto. Tinha que tirar dos dois, o senhor não acha?

O lavrador Aniceto Piedade, de 70 anos, perdeu o boi para a cobra boiuna
Quais as cobras mais comuns nessa região?
Jiboia, sucuriju e cascavel.
Obrigado pela entrevista, Seu Aniceto.